PAZ NA SEXUALIDADE
Leandro Mariano
Renata Martins
Renata Martins
QUANDO CHEGA A PAZ
O que se passa na cabeça dos homossexuais, antes e depois de revelar aos pais e à sociedade, o modo como eles são felizes.
A questão da homossexualidade ainda gera muita polêmica em torno da sociedade brasileira, mas, o índice de pessoas que assumem a sua sexualidade, vem crescendo nos últimos anos. Hipoteticamente, umas das explicações para isso, é a forma como as pessoas vivem hoje, com mais liberdade de escolhas e não tão ligadas às culturas e tradições ultrapassadas.
Quando um gay descobre qual o ponto forte da sexualidade, em primeiro lugar, há uma tentativa de esconder esse sentimento e, a aceitação de si próprio, não é imediata. A estudante de publicidade, Júlia Diniz, 22, conta qual foi sua reação ao se deparar homossexual. “Quando descobri que era lésbica, por volta dos 17 anos, não queria me aceitar e não conseguia entender o desejo que tinha por mulheres. Tentei, em vão, ficar com homens e provar pra mim mesmo que eu poderia ter essa opção. Com o tempo fui me acostumando e, finalmente, comecei a namorar com uma garota”, afirma.
Em meio aos conflitos internos, a pessoa se prepara para afirmar sua sexualidade para os pais e para a sociedade. O preconceito é o maior gerador do medo na hora de se expor e confirmar seus desejos. “No início foi muito difícil, minha mãe ficou cerca de quatro meses sem conversar comigo. Sofri muito, mas hoje consigo lidar muito bem com isso. Meus amigos me apóiam e querem me ver feliz. Tenho orgulho de ter passado por tudo que passei e ter encontrado a felicidade. Namoro e faço planos de morar com minha namorada e, futuramente, adotar um filho com ela”, diz Júlia.
Essa falta de compreensão dos pais afeta a formação da personalidade dos gays. Quando ele tenta ir contra seus princípios (da sexualidade e amor), há uma perda da identificação da pessoa e uma desconstrução de sua personalidade. De acordo com a psicóloga Ana Cláudia Alvim, as queixas mais frequentes dos homossexuais têm relação com a família. “As maiores rejeições são de caráter familiar e social. Chega um ponto tão estressante e dolorido, que o próprio relacionamento, mesmo cheio de amor, muitas vezes não segura a intensidade da pressão sofrida”, explica a psicóloga.
O caminho a ser percorrido pelos homossexuais é extenso. Existe um trabalho voltado para a mudança de valores culturais, educacionais e religiosos. Mas, em algum momento, as pessoas devem entender que isso é natural e deve ser vivido sem rótulos e culpa. “Eu não optei por ser homossexual, foi espontâneo e natural. Acho que todos estão suscetíveis e tendenciosos a terem essa sexualidade aflorada”, afirma o estudante de economia, Leonardo Ribeiro, 20. “O que eu quero é respeito, não espero que todos me entendam”, diz ele. De acordo com Ana Cláudia, chegaremos a um ponto onde não exista diferenciação de gênero (masculino e feminino). “As pessoas serão identificadas não de acordo com o sexo biológico delas, o feminino e o masculino não estará mais vinculado ao sexo”, explica a psicóloga.
Enquanto isso não acontece, os homossexuais se apegam às pessoas que respeitam seu modo de vida. “Se hoje as pessoas que mais amo no mundo me apóiam, não deixaria de viver em paz e ter uma vida absolutamente normal. A felicidade está do meu lado, e, prova disso, é o meu estado de espírito”, afirma Júlia.
OS DOIS LADOS DA MOEDA
Você já parou para pensar em quanto um pai deve ficar decepcionado quando descobre que um filho é gay? Ainda mais aqueles que sonham em ver os filhos casando em uma igreja, lhe dando netos. Geralmente esses pais são pessoas conservadoras e estão dotados de valores antigos, de uma sociedade preconceituosa e egoísta que não pensa na felicidade, mas sim, em seguir costumes arcaicos e viver de aparências, como se todo casal “hetero” fosse feliz da vida.
Há uma cultura por trás disso que é difícil de ser mudada. E, para tal, vai levar algum tempo. Não é fácil mudar tradições e preceitos de milhões de pessoas. Cada um tem um princípio que deve ser respeitado. Por isso pergunto:
Você já parou para pensar no quanto um filho fica triste ao saber que seus pais não o apóiam em decisões que o afetará a vida inteira? É tão fácil dizer que a homossexualidade é uma opção sexual. Partindo desse princípio, os gays escolhem se esconder e serem alvo de preconceitos dentro e fora de casa. Seria tão mais fácil para todos. Casar, ter filhos, ser a perfeita marionete que todo pai quer. Isso é natural, é a segurança que eles querem passar, é o querer cuidar. Mas não dá pra ser sempre assim, todo mundo tem direito à liberdade e a viver feliz - independente da forma. Há coisas mais importantes pra se preocupar, importa o caráter, o respeito.
Essa eterna luta dos homossexuais em busca dos seus direitos vai perdurar durante um bom tempo, até que, esse preconceito vá aos poucos, acabando. A batalha contra a discriminação deve ser ferrenha, tanto quanto acontece para a raça e a religião.
UMA PALAVRA QUE TRANSFORMA
Uma coisa que incomoda os gays é a questão de dizerem que ser homossexual é uma escolha. O significado da palavra opção, de acordo com o dicionário Aurélio, é o ato ou faculdade de optar; livre escolha; direito de preferência. Como pode alguém escolher algo que envolva sentimento?
É o questionamento que Rafael Miranda, 21, faz quando se trata do assunto. O estudante de engenharia mecânica conta que, mesmo dentro da universidade, um lugar que se pressupõe que haja pessoas com mente esclarecida e aberta, há inúmeras pessoas que mantêm esse tipo de atitude discriminatória. A seguir, o depoimento de Rafael à nossa reportagem:
“Eu odeio quando essas pessoas falam que ser gay é uma opção. Não é! Me diga, como alguém pode escolher seguir por um caminho cheio de pedras, um caminho de preconceitos em que sua própria família te renega? O pior é quando quem diz isto são pessoas formadoras de opinião, como psicólogos em entrevistas sobre o assunto. Pior ainda é quando, sem pensar no que fala, um gay diz ‘essa é minha opção sexual’. Não existe opção sexual. Não é assim que as coisas funcionam e temos que mudar isso. Parece bobagem mas não é. Muitas pessoas acham mesmo que nós escolhemos ser assim. Digo sim, por todos os homossexuais do mundo, a gente não escolhe. Se você é gay e diz que escolheu, me desculpe, mas você está mentindo para si mesmo. Eu nunca escolheria ter sido expulso de casa aos 17 anos, eu nunca escolheria ter que me matar de tanto estudar para entrar em uma faculdade pública para ter alguma profissão, eu nunca escolheria ficar sozinho em meu aniversário, sem minha família e em uma cidade que eu não conheço, eu nunca escolheria ficar sem meus amigos de infância, que hoje eu vejo que não eram verdadeiros amigos, mas eu gostava deles. Se pudesse escolher eu não estaria aqui falando com vocês sobre este assunto, estou aqui por ser gay, se eu não fosse homossexual eu estaria com meus pais,em São Paulo , na minha casa, no meu lar.”
Este foi o depoimento de um homossexual que foi expulso de casa aos 17 anos, quando seu pai descobriu que ele namorava o vizinho. Rafael foi encontrado pela nossa equipe no consultório da psicóloga Ana Cláudia Alvim, onde faz terapia desde que chegou a Belo Horizonte, em 2006.
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