Paz na favela
Iêva Tatiana
O desenho como voz
Apelo pela paz ganha melodia
“Tô cansado de ver os malucos morrer. Na esquina, na quebrada, e a mãe deles sofrer. Isto é culpa da sociedade, do preconceito. Falam quem veio da favela, não é direito” (sic).
É assim que MC Death começa seu rap, A Favela Pede Paz, como forma de expressar indignação e revolta contra a violência nas favelas que, segundo ele, na maioria das vezes, é provocada pela polícia e pelo descaso das autoridades.
Comumente, são os próprios moradores dos aglomerados que compõem canções para denunciar os abusos, a opressão e a violência que sofrem.
A banda paulista Racionais MC’s, conhecida pelas letras que denunciam a desigualdade nas sociedades brasileiras, também defende a paz nas favelas do Brasil, como na música Fórmula Mágica da Paz:
“Não vou trair quem eu fui, quem eu sou. Gosto de onde eu estou e de onde eu vim. O ensinamento da favela foi muito bom pra mim. Cada lugar um lugar, cada lugar uma lei. Cada lei uma razão, e eu sempre respeitei”.
“Eu vou procurar, sei que vou encontrar, vou procurar. Vou procurar, você não bota uma fé, mas eu vou atrás da fórmula mágica da paz” (sic).
Não é raro as músicas dos rappers brasileiros tocarem como um desabafo, falando do dia-a-dia das favelas do País e mostrando como vivem, paralelamente, a realidade violenta e a busca pela paz.
Ludmila Rates
Raquel Emanuelle
Raquel Emanuelle
A paz é possível, basta o envolvimento de toda a comunidade
Associações e ONGs fazem o papel do Estado levando educação, cidadania e religião aos moradores de vilas e favelas
Associações e ONGs fazem o papel do Estado levando educação, cidadania e religião aos moradores de vilas e favelas
No Brasil, as favelas são frequentemente associadas à violência, tráfico de drogas e reduto daqueles que vivem às margens das leis que regem o País. Muitas delas, no entanto, lutam para vencer esse paradigma e mostrar que a paz também pode existir dentro dos aglomerados urbanos.
Existem, hoje, diversos projetos de inclusão social e de combate à violência nas favelas. A maioria deles visa atingir o público jovem, de forma que, no futuro, sejam formados adultos com consciência de cidadania, paz e respeito ao próximo.
No bairro Cabana do Pai Tomás, região oeste de Belo Horizonte, a iniciativa de atender crianças e jovens foi da paróquia local, que criou o Centro Juvenil Dom Bosco, em dezembro de 1988, com o propósito de desenvolver ações educativas e preventivas, voltadas para a promoção e a proteção de crianças e adolescentes.
O projeto oferece oficinas de esporte, lazer, cultura e profissionalização, além de prover apoio pedagógico e psicológico. Aos domingos, a comunidade é convidada a participar do Centro Juvenil Festivo, que reúne o público atendido e os convidados em um ambiente de confraternização e convívio social.
Há dez anos, como parte da proposta de educação do Centro Juvenil, foi criado o curso Pré-Universitário Padre Sebastião Teixeira, o Pré-Upset, que prepara os alunos do Cabana para o vestibular da UFMG, principalmente.
Segundo a secretária do curso, Natália Klik, além das aulas, os alunos recebem orientação vocacional, são acompanhados por seminaristas, para que tenham contato com a espiritualidade, e, mensalmente, os aniversariantes são festejados com bolo e guloseimas.
Aos melhores alunos do Pré-Upset, a recompensa: uma parceria firmada com o Instituto Metodista Izabela Hendrix garante a concessão de bolsas comunitárias. Depois de ingressarem na faculdade, os jovens são convidados a se integrar ao projeto como voluntários.
Klik lembra que houve uma época em que a violência fazia parte do cotidiano da comunidade do Cabana do Pai Tomás: “Já aconteceu de gente entrar no Centro Juvenil atirando nas pessoas”. Hoje, são os jovens que procuram a oportunidade de estudar e ter uma qualificação profissional, negando a premissa de que a origem condena o futuro.
Mães lutam para afastar seus filhos da marginalidade
A vendedora Lourdes Barbosa já morou com os três filhos em um dos becos mais perigosos do Cabana. Atualmente, ela vive com o filho caçula próximo à favela, no bairro Madre Gertrudes. Segundo a vendedora, a mudança de residência se deu por vários motivos, um deles era a faixa etária em que seus filhos se encontravam. “Eles estavam entrando na adolescência e eu não conseguia saber todos os passos deles, pois trabalhava o dia inteiro”.
A comercialização de substâncias entorpecentes é comum em várias comunidades carentes de Belo Horizonte e é por meio do tráfico que se estabelece o contraditório poder paralelo. “Os moradores ficam literalmente submissos aos traficantes”, afirma o tenente reformado da Polícia Militar Pedro Evangelista. Mas, segundo Lourdes Barbosa, mesmo com tanta violência há um fator positivo: “Não temos medo de assaltos, roubos ou outro tipo de violência, os traficantes não deixam. Eu podia deixar a minha casa aberta que ninguém roubava”.
Outro motivo para a mudança da comerciante foi a rivalidade entre traficantes e policiais. “Já presenciei muitos tiroteios, não só entre gangues rivais, mas de policiais contra os traficantes”, comenta Barbosa. Além disso, a comerciante afirma ter visto, várias vezes, armas sendo conduzidas perto de seus filhos: “Meu caçula brincava de carrinho no passeio enquanto o traficante limpava a arma ao lado dele”.
O filho mais velho de Barbosa, Djavan Baião, foi o maior motivo da mudança. “Ele começou a se envolver com drogas e eu não conseguia fazer nada”, afirma a vendedora. Segundo o primogênito, o envolvimento com o cristianismo fez com que ele se livrasse da dependência. “Jesus me libertou das drogas”, afirma Baião, que se diz livre das substâncias há mais de dez anos.
A família da comerciante, com exceção do caçula, frequenta os cultos evangélicos de uma das várias igrejas próximas à comunidade. O crescimento da fé cristã atingiu, também, as comunidades mais carentes de Belo Horizonte. A Pedreira Padre Lopes, por exemplo, recebe voluntários de uma igreja todos os sábados. “Além de vários trabalhos de cidadania, nós introduzimos os preceitos e ensinos da fé cristã”, afirma a voluntária Valéria Ramos.
O grito de paz nas favelas vem ganhando coro a cada dia, ecoando nos becos e vilas, levando esperança àqueles que anseiam o fim da violência e a tantos outros que sonham com dias mais calmos.
Existem, hoje, diversos projetos de inclusão social e de combate à violência nas favelas. A maioria deles visa atingir o público jovem, de forma que, no futuro, sejam formados adultos com consciência de cidadania, paz e respeito ao próximo.
No bairro Cabana do Pai Tomás, região oeste de Belo Horizonte, a iniciativa de atender crianças e jovens foi da paróquia local, que criou o Centro Juvenil Dom Bosco, em dezembro de 1988, com o propósito de desenvolver ações educativas e preventivas, voltadas para a promoção e a proteção de crianças e adolescentes.
O projeto oferece oficinas de esporte, lazer, cultura e profissionalização, além de prover apoio pedagógico e psicológico. Aos domingos, a comunidade é convidada a participar do Centro Juvenil Festivo, que reúne o público atendido e os convidados em um ambiente de confraternização e convívio social.
Há dez anos, como parte da proposta de educação do Centro Juvenil, foi criado o curso Pré-Universitário Padre Sebastião Teixeira, o Pré-Upset, que prepara os alunos do Cabana para o vestibular da UFMG, principalmente.
Segundo a secretária do curso, Natália Klik, além das aulas, os alunos recebem orientação vocacional, são acompanhados por seminaristas, para que tenham contato com a espiritualidade, e, mensalmente, os aniversariantes são festejados com bolo e guloseimas.
Aos melhores alunos do Pré-Upset, a recompensa: uma parceria firmada com o Instituto Metodista Izabela Hendrix garante a concessão de bolsas comunitárias. Depois de ingressarem na faculdade, os jovens são convidados a se integrar ao projeto como voluntários.
Klik lembra que houve uma época em que a violência fazia parte do cotidiano da comunidade do Cabana do Pai Tomás: “Já aconteceu de gente entrar no Centro Juvenil atirando nas pessoas”. Hoje, são os jovens que procuram a oportunidade de estudar e ter uma qualificação profissional, negando a premissa de que a origem condena o futuro.
Mães lutam para afastar seus filhos da marginalidade
A vendedora Lourdes Barbosa já morou com os três filhos em um dos becos mais perigosos do Cabana. Atualmente, ela vive com o filho caçula próximo à favela, no bairro Madre Gertrudes. Segundo a vendedora, a mudança de residência se deu por vários motivos, um deles era a faixa etária em que seus filhos se encontravam. “Eles estavam entrando na adolescência e eu não conseguia saber todos os passos deles, pois trabalhava o dia inteiro”.
A comercialização de substâncias entorpecentes é comum em várias comunidades carentes de Belo Horizonte e é por meio do tráfico que se estabelece o contraditório poder paralelo. “Os moradores ficam literalmente submissos aos traficantes”, afirma o tenente reformado da Polícia Militar Pedro Evangelista. Mas, segundo Lourdes Barbosa, mesmo com tanta violência há um fator positivo: “Não temos medo de assaltos, roubos ou outro tipo de violência, os traficantes não deixam. Eu podia deixar a minha casa aberta que ninguém roubava”.
Outro motivo para a mudança da comerciante foi a rivalidade entre traficantes e policiais. “Já presenciei muitos tiroteios, não só entre gangues rivais, mas de policiais contra os traficantes”, comenta Barbosa. Além disso, a comerciante afirma ter visto, várias vezes, armas sendo conduzidas perto de seus filhos: “Meu caçula brincava de carrinho no passeio enquanto o traficante limpava a arma ao lado dele”.
O filho mais velho de Barbosa, Djavan Baião, foi o maior motivo da mudança. “Ele começou a se envolver com drogas e eu não conseguia fazer nada”, afirma a vendedora. Segundo o primogênito, o envolvimento com o cristianismo fez com que ele se livrasse da dependência. “Jesus me libertou das drogas”, afirma Baião, que se diz livre das substâncias há mais de dez anos.
A família da comerciante, com exceção do caçula, frequenta os cultos evangélicos de uma das várias igrejas próximas à comunidade. O crescimento da fé cristã atingiu, também, as comunidades mais carentes de Belo Horizonte. A Pedreira Padre Lopes, por exemplo, recebe voluntários de uma igreja todos os sábados. “Além de vários trabalhos de cidadania, nós introduzimos os preceitos e ensinos da fé cristã”, afirma a voluntária Valéria Ramos.
O grito de paz nas favelas vem ganhando coro a cada dia, ecoando nos becos e vilas, levando esperança àqueles que anseiam o fim da violência e a tantos outros que sonham com dias mais calmos.
O desenho como voz
Ação cultural no bairro Alto Vera Cruz
O foco artístico do grupo é o grafite. Alto Vera Cruz, Boa Vista, São Geraldo, Sagrada Família. Quem mora nesses bairros conhece o trabalho do GFD – Grandes Fãs de Desenho ou Gion, Frank e Dudu, como explica Eduardo Alves da Silva, 30, um dos integrantes. Há quase cinco anos, os três amigos colorem as ruas da periferia de Belo Horizonte e repassam a arte do grafite a outros jovens.
A iniciativa surgiu do encontro nas oficinas de desenho e grafite do Programa Fica Vivo, criado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho alia ações preventivas mobilizando os jovens das comunidades em oficinas educativas, culturais e profissionalizantes. De acordo com o site das Nações Unidas, os resultados do Programa são animadores: “Na favela Morro das Pedras, o número de homicídios, tentativas de homicídios e assaltos caiu, aproximadamente, 50% em relação aos cinco meses anteriores à sua execução”.
A eficácia das ações focais, no entanto, depende da continuidade dada pelos próprios moradores. Para Silva, ou Edu, como é mais conhecido pelos amigos, a participação no projeto foi importante: “Foi através dele que pude mostrar o meu trabalho, fazer amizades, desenvolver trabalho em equipe”. E graças ao seu esforço e dedicação, Edu teve a oportunidade de estudar na Escola de Quadrinhos Planet Comics, fazer o curso de artes plásticas promovido pelo Arena de Cultura e participar de três edições do Festival Internacional de Quadrinhos de BH (FIQ-BH). Mas Edu e companhia não pararam nas oficinas e projetos individuais. Levaram para as ruas das comunidades a arte que aprenderam em suas experiências.
Desde que começou, em 2004, O GFD ensina as técnicas para quem quiser aprender através de eventos ou ações culturais que promovem verdadeiras galerias de grafite a céu aberto pelas ruas. Nos muros, paredes e fachadas, são desenvolvidos pelos artistas da comunidade “trabalhos relacionados a temas, tais como cidade, favela, família, amigos, etc.”, diz Edu. Ainda de acordo com o artista, existem planos para a produção de trabalhos em diversas linguagens da comunicação, como animação, pintura em tela, em tecido, camisetas e adesivos, através da Equipe/ Estúdio Infinity Works.
O exemplo do grupo é um entre tantos outros que têm contribuído para a disseminação da arte de rua. “Assim como o GFD, também existe o grupo Rups3, o Setor 9, e muitos outros, que fazem trabalho semelhante. É importante ressaltar que grafite como forma de expressão não é apenas diversão, mas, também, protesto e é esse o meio que os artistas da periferia têm para mostrar a realidade da comunidade, seja ela boa ou ruim, é a nossa voz”, diz Edu.
A iniciativa surgiu do encontro nas oficinas de desenho e grafite do Programa Fica Vivo, criado pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (CRISP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O trabalho alia ações preventivas mobilizando os jovens das comunidades em oficinas educativas, culturais e profissionalizantes. De acordo com o site das Nações Unidas, os resultados do Programa são animadores: “Na favela Morro das Pedras, o número de homicídios, tentativas de homicídios e assaltos caiu, aproximadamente, 50% em relação aos cinco meses anteriores à sua execução”.
A eficácia das ações focais, no entanto, depende da continuidade dada pelos próprios moradores. Para Silva, ou Edu, como é mais conhecido pelos amigos, a participação no projeto foi importante: “Foi através dele que pude mostrar o meu trabalho, fazer amizades, desenvolver trabalho em equipe”. E graças ao seu esforço e dedicação, Edu teve a oportunidade de estudar na Escola de Quadrinhos Planet Comics, fazer o curso de artes plásticas promovido pelo Arena de Cultura e participar de três edições do Festival Internacional de Quadrinhos de BH (FIQ-BH). Mas Edu e companhia não pararam nas oficinas e projetos individuais. Levaram para as ruas das comunidades a arte que aprenderam em suas experiências.
Desde que começou, em 2004, O GFD ensina as técnicas para quem quiser aprender através de eventos ou ações culturais que promovem verdadeiras galerias de grafite a céu aberto pelas ruas. Nos muros, paredes e fachadas, são desenvolvidos pelos artistas da comunidade “trabalhos relacionados a temas, tais como cidade, favela, família, amigos, etc.”, diz Edu. Ainda de acordo com o artista, existem planos para a produção de trabalhos em diversas linguagens da comunicação, como animação, pintura em tela, em tecido, camisetas e adesivos, através da Equipe/ Estúdio Infinity Works.
O exemplo do grupo é um entre tantos outros que têm contribuído para a disseminação da arte de rua. “Assim como o GFD, também existe o grupo Rups3, o Setor 9, e muitos outros, que fazem trabalho semelhante. É importante ressaltar que grafite como forma de expressão não é apenas diversão, mas, também, protesto e é esse o meio que os artistas da periferia têm para mostrar a realidade da comunidade, seja ela boa ou ruim, é a nossa voz”, diz Edu.
Apelo pela paz ganha melodia
“Tô cansado de ver os malucos morrer. Na esquina, na quebrada, e a mãe deles sofrer. Isto é culpa da sociedade, do preconceito. Falam quem veio da favela, não é direito” (sic).
É assim que MC Death começa seu rap, A Favela Pede Paz, como forma de expressar indignação e revolta contra a violência nas favelas que, segundo ele, na maioria das vezes, é provocada pela polícia e pelo descaso das autoridades.
Comumente, são os próprios moradores dos aglomerados que compõem canções para denunciar os abusos, a opressão e a violência que sofrem.
A banda paulista Racionais MC’s, conhecida pelas letras que denunciam a desigualdade nas sociedades brasileiras, também defende a paz nas favelas do Brasil, como na música Fórmula Mágica da Paz:
“Não vou trair quem eu fui, quem eu sou. Gosto de onde eu estou e de onde eu vim. O ensinamento da favela foi muito bom pra mim. Cada lugar um lugar, cada lugar uma lei. Cada lei uma razão, e eu sempre respeitei”.
“Eu vou procurar, sei que vou encontrar, vou procurar. Vou procurar, você não bota uma fé, mas eu vou atrás da fórmula mágica da paz” (sic).
Não é raro as músicas dos rappers brasileiros tocarem como um desabafo, falando do dia-a-dia das favelas do País e mostrando como vivem, paralelamente, a realidade violenta e a busca pela paz.
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